quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O casamento do Sol com a Lua – Uma visão simbólica do masculino e do feminino

Titulo : O casamento do Sol com a Lua – Uma visão simbólica do masculino e do feminino
Autora : Raissa Cavalcanti
Edtora : Cultrix – SP Edição : 9 Ano: 95

Prefácio
...O trabalho do homem é o perigoso oficio do descobrimento de si mesmo e do seu desenvolvimento, pois há que se confrontar com a história pessoal e com a história da humanidade.
...É na psique que residem as verdadeiras dificuldades e onde podemos aclamar e confrontar os demônios e fantasmas e chegar a poder experimentar e assimilar da forma menos distorcida possível esses conteúdos.
...todo o desconhecido e vazio é cheio de projeções psíquicas que ocorrem nessa capacidade, na qual o observador pode reconhecer a própria figura refletida.
...explorar e conhecer a natureza equivale a explorar e conhecer um sistema de projeções.
...Trata-se de entrar em contato com a fantasia e confrontá-la com a realidade “ interna e externa”.
...O universo do homem não se reduz a objetos, mas se amplia em imagens simbólicas.

Introdução
... No caos está o germe de uma nova ordem. Marx defendeu este axioma. Milênios antes de Marx, praticamente todas as filosofias do Oriente o fizeram. A célebre relação do yin-feminino, yang-masculino, que constitui a base do taoísmo chinês, é um claro exemplo disso.
...Yin (de cor negra com ponto branco) é o princípio do caos, Yang (de cor branca com ponto preto) é o principio da ordem. Significa que todo caos contém em si o potencial de uma nova ordem e toda ordem o potencial de um novo caos.
...no mundo caótico em que vivemos hoje ...por uma crise de valores de proporções sem precedentes na própria historia, a certeza de que uma nova ordem nasce do caos.
... esse caos está simplesmente inserido na ordem natural das coisas. Deve bem ao contrário, ser entendido como uma grande possibilidade de transformação e nesse sentido, representa um desafio.
...o pior dos males gerados pelos excessos e desequilíbrios da ordem patriarcal: a perda da identidade psicológica tanto nos homens quanto mulheres...
“Jung ensinou que a mulher é feminina na sua consciência e masculina no seu inconsciente, enquanto o homem é masculino na sua consciência e feminino no seu inconsciente” (pg 11)
...homens e mulheres perdem muito na sociedade patriarcal... confinados ambos dentro das verdadeiras camisas-de-força que são os papeis tradicionais a eles atribuídos, perdem cada um deles a sua outra metade...transformam-se em seres partidos.
“O objetivo é que este trabalho contribua para o melhor entendimento do próprio ser e o torne mais consciente de si mesmo e de seus relacionamentos”.
“A orientação da cultura no Ocidente tomou uma direção exacerbadamente masculina, em desfavor do feminino,” ...
“o feminino precisa ser resgatado, como elemento necessário para o melhor equilíbrio na vivência psíquica do homem e da mulher.”
... tanto o homem como a mulher perderam contato com o princípio feminino. Para o homem, esse fato trouxe a unilateralidade, da vivência psíquica, que coloca como um ser em desequilíbrio permanente.
... A mulher, na tentativa de adaptação a um mundo com uma consciência masculina, procura se assemelhar ao homem, perdendo a sua identidade psíquica mais profunda...

... O dialogo interno entre o masculino e feminino abre um espaço maior para as relações interpessoais e para um melhor autoconhecimento.
... “A lua precisa ressurgir no céu psíquico para que possa ser realizado o hierogamos. Só com a sua volta do exílio o sol poderá reconhecer a sua mais antiga noiva.”

O casamento do sol com a lua ... influenciará as mudanças e as transformações em todas as dimensões da vida humana. “Quando o sol permitir que a lua também mostre o seu brilho, que tem uma dimensão diferente, haverá o encontro do casal cósmico.”
“Masculino e feminino são expressões do existir humano que aparecem na dimensão simbólica do ser e estar no mundo. Essas essências não estão ligadas unicamente à condição sexual, do ser homem ou ser mulher, mas representam princípios psíquicos, que podem ser vividos ou negados, tanto pelo homem como pela mulher.”
“Esses princípios requerem uma maneira especial de percebê-los, devido à sutileza de sua natureza. Não podem ser percebidos apenas através de conceitos intelectuais, porque escapam e fogem à análise racional. A maneira de aprender o seu significado mais profundo é através da linguagem poética dos sentidos e da intuição, expressa na criação artística nos mitos e nos símbolos.”
“Na mitologia nagô, o mundo, que a princípio estava unido, foi separado por Olorum, e passou a constituir-se em duas metades. A metade superior formou o Obatalá, o céu, o princípio masculino. A metade inferior formou o Oduduwá, a terra, as águas primordiais, o principio feminino...”
O Obatalá associado à idéia da fecundidade, do sopro, do poder criador. E o Oduduwá relaciona-se com a capacidade receptiva da gestação...
“No poema épico babilônico da criação (Enuma Elish), o céu foi separada da terra, á qual antes estava unido num forte abraço conjugal...”
“Na mitologia hindu, Indra separa o céu (Dyaus) da terra (Prithivi)...”
No folclore chinês, Tuangku separou o céu da terra. Entre os maiores da Nova Zelândia, o céu (Rangi) e a terra (Papa) foram separados por um dos seus filhos, Iana-Mahuta, ajudado por Tutennganahau...
“Na lenda da vitória-régia, a lua aparece com o aspecto masculino, personificada num guerreiro belo e forte, por quem Naiá se apaixona. Um dia, Naiá corre pela floresta e chegou às margens de um lago. Naiá vê o reflexo da lua na água e se apaixona. Ela se atira no lago e morre.
A lua se transforma Naiá numa flor, a vitória-régia. Todas as noites, a vitória-régia abre suas pétalas rosadas para que a lua a ilumine e a fecunde.”
Entre os esquimós, a lua é masculina; ela é o irmão e o sol, a irmã.
No Irã, na Babilônia e na Caldéia, a lua adquiriu qualidades masculinas.
“Com o tempo, esse aspecto lunar masculina se personifica na figura de um deus lunar, pai dos reis terrenos. O homem lunar é também o herói que mata periodicamente um monstro ou dragão que ameaça engolir a lua.
São Jorge é o homem lunar nas crenças populares brasileiras; ele é visto na lua lutando com o dragão. Ele é a representação do antigo deus lunar Sinn. O aspecto lunar masculino pode estar presente nessas representações o homem lunar ou do deus lunar, mas a lua conserva a sua feminilidade. A presença do homem da lua se dá principalmente na fase da lua cheia, quando ela é mais iluminada pelo sol, o que indica a influência mais marcada do masculino. É nessa fase da lua que o homem lunar vence o dragão que ameaça devorá-la, e estabelece a lei e a ordem na Terra.”
“O sol nos desperta da noite da inconsciência para a vida consciente. Ele é o contato real, que pressupõe limites e obrigações.”
“A lua apresenta um outro tipo do saber, a sabedoria que vem do inconsciente, da natureza e do instinto. O conhecimento da intuição, que não segue um plano lógico. A lua é o símbolo do princípio feminino, que está ligado a valores que vem do inconsciente.”
“A lua e o sol são símbolos do casal cósmico, agentes de toda a mudança e transformação da vida. Um princípio está profundamente ligado ao outro. O claro pressupõe o escuro; o tímido, o sério; o masculino, o feminino. Todas as coisas se expressam em suas polaridades, em suas correspondências simbólicas.”
“A lua traz simbolicamente a questão do destino, e este está ligado ao feminino e ao número 3.”
“onde há luz há sombra”
O momento lunar se manifesta em três aparências e é a representação simbólica do movimento do espírito em sua viagem e entrada em reinos desconhecidos. O numero 3 é um elemento que abrange as três dimensões do tempo, o presente, o passado e futuro, o acontecer de um processo. O nr. 3 é o símbolo do movimento que contem em si mesmo todos os fatores necessários para o desenvolvimento. Ele contém o 1, que é a origem, o início; contém o 2, que é a junção das polaridades, e contem a si mesmo, que é o movimento, a continuidade. O 3 é também considerado o nr do inferno; ele guarda em si processos e segredos que poderão vir a se revelar ou permanecer ocultos. Ele é o guardião dos movimentos obscuros e lunares da psique.
“O divino se manifesta em toda a criação, que é a realização da união dos opostos, o momento do aparecimento da semente-potencialidade no mundo da consciência, ordenando o que antes era caos e mistura potencial.”
A lua crescente é representada mitologicamente por Artemis.
A lua cheia...pelas grandes mães.
A lua decrescente está relacionada com o tipo mediadoraHécate deusa das travessias perigosas.
“A lua com suas fases representa essa mutabilidade do princípio feminino, e a representação arquetípica das dimensões desse domínio psíquico.”
“O lado demoníaco é um poder da natureza que precisa ser admitido como parte integrante da vida, e que fornecerá energia para os processos criativos, a fim de que possa haver um funcionamento mais totalizante.”
“A imperfeição é um elemento necessário para que se crie um movimento de busca da união anterior. O movimento de busca da união é tão necessário quanto o movimento de separação.”
“A restauração do poder feminino vai se dar através da figura de Maria.”
“O símbolo de Maria, significando a redenção do feminino, traz a possibilidade de harmonização, numa união criadora das forças primordiais que estão dissociadas pela representação do feminino...símbolo da nova era, de um novo humanismo.”
“Maria mostra que o poder criativo da mulher pode transcender o terreno, e que o fruto de sua criação é o amor, o símbolo da união entre todos os seres e a vida.”
O equilíbrio depende do casamento que pode ser feito entre o masculino e o feminino, que são a representação simbólica de todos os opostos que constituem a vida. Quando pudermos viver esse casamento interno realizando em nosso psiquismo o símbolo do Andrógino, a relação entre o homem e a mulher será mais rica e criativa.

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